terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Enfermagem Desportiva - O papel do enfermeiro

A história da ligação dos enfermeiros ao desporto, começou decerto pelo futebol, e não terá mais de 50 anos. Foi feita por um número reduzido de profissionais, e apenas em clubes de maior dimensão.
Nas selecções Nacionais de futebol, a história é feita com enfermeiros. A Federação Portuguesa de Futebol fala nos seus estatutos em Enfermeiros/Massagistas obrigando até à apresentação da carteira profissional, aquando do pedido dos clubes de cartões para efectuarem os jogos.
Neste contexto, são até conhecidas referências a enfermeiros com grande notoriedade mediática e com elevado reconhecimento pelo seu trabalho e dedicação.
Foram os casos da grande figura do Sporting, o enfermeiro Manuel Marques, Asterónimo Araújo, figura do Benfica, enfermeiro José Mário, ao serviço do Futebol Clube do Porto e da Selecção Portuguesa de Futebol, entre outros.
Não esqueçamos o enfermeiro Rodolfo Moura, apelidado no Futebol Clube do Porto como “o monstro da medicina”, foi em 2002 envolto em grande destaque aquando da sua transferência para o Sporting Clube de Portugal, e mais tarde para o Benfica, sendo reconhecido por muitos jogadores que jogam por essa Europa fora.
Por mais rica, digna e exaltante que seja a história da enfermagem no desporto, a mudança caracterizadora dos nossos dias insinua-se, instala-se e determina novas realidades. É fácil encontrar o cimento unificador, quando falamos de enfermeiros no desporto. Todos, independentemente do trajecto e da formação, têm no centro da sua intervenção, por um lado a prevenção, a formação e manutenção da saúde e por outro o tratamento e reabilitação do atleta. O atleta é o centro da sua acção.
A enfermagem no desporto permite aos enfermeiros, de um modo claro, desenvolver uma actividade competente e relevante, pouco organizada mas com presente e futuro, enfermeiros diferenciados e capazes. O tempo que se vive na enfermagem no desporto, não é fácil, exige esforço diário redobrado, exige rigor de procedimentos, exige determinação e afirmação, pois só assim seremos dignos enfermeiros do desporto e no desporto.

PRÁTICA DESPORTIVA E QUALIDADE DE VIDA
Sabemos que a actividade física é um dos meios de protecção da saúde, necessitando porém de orientação por parte da equipa sanitária, onde os enfermeiros desempenham, frequentemente, um papel de educadores e conselheiros, devendo, por isso, orientar os praticantes de forma individualizada, face aos benefícios e riscos para a saúde que esta comporta, tendo em atenção as alterações fisiológicas que são induzidas por ele.
A Prática desportiva é cada vez mais importante na nossa sociedade, não só pelos benefícios físicos como também pela forma como os interesses económicos rodeiam o fenómeno do desporto.
As exigências impostas pela necessidade de se obterem resultados, fazem com que se utilizem cargas de treino crescentes muitas delas nos limites da tolerância fisiológica dos atletas/praticantes. Começam então a surgir patologias próprias da prática desportiva intensa.
É aqui que os enfermeiros, integrados nas equipas clínicas de apoio aos atletas, nos seus clubes, actuam na prevenção de lesões, sensibilizando técnicos e dirigentes desportivos e na sua resolução no mais curto espaço de tempo quando as mesmas são inevitáveis.
A cura efectiva, rápida e segura, que é exigida pelos atletas, treinadores, dirigentes e público, ultrapassa a atitude estática e impõe uma clínica de grupo multidisciplinar, com o enfermeiro sempre presente, pela especificidade da acção e experiências adquiridas, não se compadecendo com empirismos artesanais de outros técnicos não qualificados.
Desde as relações com os desportistas até aos elementos da equipa de saúde, dirigentes desportivos, equipa técnica,..., deverá estar sempre presente nos propósitos dos enfermeiros do desporto, uma relação humana adequada, assertiva e com sentido de ética profissional, granjeadora de prestigiante visibilidade social para a enfermagem em geral.

EVOLUÇÃO DA PROFISSÃO DE ENFERMAGEM
Ao entender enfermagem como profissão social, que concepções de enfermagem possuem os enfermeiros que trabalham no desporto e consequentemente, como perspectivam a profissão?
Sendo a evolução do conteúdo da enfermagem coincidente, também no meio desportivo, nos valores intrínsecos - Pessoa, Saúde, Ambiente, Cuidados - como se podem articular os mesmos, com fenómenos tão próprios como os do desporto?
Disponibilizando conhecimentos que coloca ao serviço do atleta. Como?
Acompanhando-o nas experiências de saúde, estabelecendo parcerias Enfermeiro/Atleta de que resultam cuidados personalizados, globais e integrais, da inteira responsabilidade do enfermeiro.
A proximidade permanente do enfermeiro junto dos atletas, dá-lhes uma importância impar na equipa, que este não pode desaproveitar, fortalecendo assim a dimensão relacional Enfermeiro/Atleta, partilhando as suas decisões autonomamente com os atletas, da concepção à execução dos cuidados que pretendem responder às necessidades por estes referidas, de forma personalizada e com atenção ao carácter único de cada situação e indivíduo, tendo sempre em mente o princípio de que é ele (atleta) que tem em si os recursos para a solução dos seus problemas. Entenda-se recuperação mais rápida e eficaz conforme a vontade e disponibilidade, digo, força mental do atleta.

A PRÁTICA DE ENFERMAGEM NO DESPORTO
Se pensarmos nas actividades de vida diária, também no desporto, há factores que influenciam essas actividades.

 Factores físicos (superação contínua dos limites de resposta física ao esforço)
 Factores Psicológicos (os atletas e alto nível são sujeitos a pressões emocionais que por vezes interferem com a sua confiança e auto-estima)
 Factores Sócio-culturais (estágios prolongados longe da família)
 Factores Espirituais e religiosos (interferem por exemplo com a alimentação - muçulmanos não comem carne de porco; altura do Ramadão fazem jejum durante o dia)
 Factores Ambientais (temperatura ambiente)
 Factores Político-económicos (instalações desportivas e equipamento adequado)
Pensando em atletas, pensamos normalmente em jovens, habituais referência de saúde; e como sofrerão eles com alterações de actividades de vida, decorrentes da prática desportiva e de tudo o que gira a sua volta?
Se aceitarmos a enfermagem como uma ciência humana prática, e recebendo contributos de outras ciências, o desenvolvimento do bem-estar do homem nas suas vertentes físicas, mentais e sociais, podemos concluir que a prática desportiva é uma actividade que deve merecer toda a atenção por parte da enfermagem.
Se o acesso à prática desportiva é reconhecido e recomendado por todos ao mais alto nível, então os enfermeiros devem envolver-se com o desporto, como meio de melhorarem a saúde dos indivíduos e da comunidade. A Enfermagem desportiva surge como uma ramificação dos cuidados de saúde primários.
Hoje existem: Desporto de Massas; Desporto de Manutenção; Desporto Amador; Desporto de alta competição e alto rendimento; Desporto para saudáveis; Desporto para deficientes.
E como poderão os enfermeiros intervir no apoio ao desporto?
Os enfermeiros, através dos cuidados podem e devem ensinar e dimensionar a actividade desportiva à condição psico-biológica do praticante de quem assiste:
 Indicando a adequada actividade física para a melhoria e manutenção da saúde em todas as idades;
 Controlando os limites físicos do esforço dos atletas no treino e na competição, evitando a superação dos limites de segurança biológica individual;
 Estudando os comportamentos e as reacções do organismo e dos indivíduos (atletas) aos variados estímulos do mundo do desporto;
 Dando cumprimento às indicações terapêuticas, com espírito de complementaridade interdependente;
 Fazendo a reabilitação dos lesionados nas várias práticas desportivas;
 Gestão de stocks e selecção de materiais (aparelhos, ligaduras, tapes, material de pensos, mobiliário, material de proprioceptividade,...);
 Dando noções de educação sanitária, com fins profilácticos e incidindo na adopção de hábitos de vida saudáveis;
 Participando na elaboração de medidas relativas à higiene e segurança dos recintos de prática desportiva;
 Desenvolvendo cursos para outros técnicos ligados ao meio.

Tal como noutras áreas de actividade, a presença do enfermeiro no meio desportivo, para além das técnicas específicas, envolve contextos relacionais íntimos, com vista a obter determinados resultados, essencialmente em interacção com o atleta.
Todas as intervenções devem ser encaradas como importantes não menosprezando as queixas “sentidas” pelo atleta.
Aqui incluem-se técnicas repetidas sem pensar, as indicações ritualmente dirigidas (ex. “põe gelo”), isentas de qualquer manifestação inequívoca no plano interpessoal da atenção dispensada ao problema do atleta.
No dia-a-dia da prática desportiva temos a noção da intensidade e do valor das emoções vividas, entre os atletas, afectados na auto-estima, procurando o apoio dos enfermeiros, que são peritos em escuta activa, de tão grande valor terapêutico nessas ocasiões.
Quantas vezes, a lesão física não é senão um pretexto para o atleta sentir interacção com o enfermeiro, sempre presente no processo curativo.
Nestes processos a acção dos enfermeiros é muito importante, no ensino para a adopção de estilos de vida adequados à prática desportiva, e na recuperação funcional após processos traumáticos incapacitantes com todo o peso que têm para os atletas, impedindo-os de fazerem o que gostam.
Os enfermeiros que trabalham no desporto terão sempre que ter presente a capacidade de escuta, como via de acesso à compreensão do atleta de quem cuidam.
Esta deve constituir um processo activo e voluntário através do qual o enfermeiro deve: manifestar ao atleta o que é importante para o enfermeiro; permitir-lhe identificar as suas emoções e ajudá-lo a identificar as suas necessidades.

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