quinta-feira, 21 de janeiro de 2010


LESÕES DESPORTIVAS - A Prevenção
O QUE SÃO
Um dos problemas do desporto moderno que pode explicar parcialmente o aumento das lesões é o aumento da competição. Por isto, seria importante encontrarmos formas metodológicas que permitam o máximo beneficio com o mínimo volume possível, para assim obtermos os benefícios da prevenção das lesões.
Todos os desportistas estão sujeitos a episódios de traumatismos (contusões, entorses, rupturas de ligamentos, luxações, …), independentemente de serem atletas profissionais ou pessoas que praticam desporto apenas como forma de manutenção e laser/recreio. No desporto amador, as lesões ocorrem sobretudo por falta de cuidado, quer a nível de aquecimento, de alimentação ou de escolha inapropriada de vestuário ou calçado. No desporto de alta competição, onde todas estas preocupações estão presentes, as lesões ocorrem principalmente devido ao overtraining.
Mas afinal, o que é uma lesão desportiva? Não existe consenso relativamente à forma de conceituar, estudar e identificar uma lesão desportiva, podendo, no entanto, estas serem classificadas em lesões desportivas agudas (resultam de um acidente, são imprevistas e causadas por um acontecimento súbito) e lesões desportivas crónicas (são lesões cumulativas, isto é, resultam da exposição repetida de determinada estrutura a um factor externo).
O futebol, voleibol e basquetebol, são os desportos que mais levam o praticante às clínicas, tendo em comum a utilização da bola e o carácter colectivo, sendo o tornozelo a região do corpo mais afectada e a entorse uma das lesões esqueléticas mais frequentes, ocorrendo pela falta de estrutura física, muscular e articular do praticante.

QUAIS AS CAUSAS
Actualmente, as lesões causadas pelo desporto são muito frequentes. Os princípios da medicina desportiva aplicam-se ao tratamento de muitas lesões musculoesqueléticas, que podem ser semelhantes, mas devidas a uma causa diferente.
Diferenciam-se na análise da origem das causas das lesões no desporto uma série de factores que estão intimamente relacionados com a génese das lesões. Estes factores podem dividir-se em dois grandes grupos que se analisam a seguir:
Factores extrínsecos
Estes factores são todos aqueles que são alheios ao atleta, susceptíveis de serem reduzidos ainda que parcialmente:
„ Calçado desportivo
„ Superfície onde decorre o treino
„ Equipamento de treino
„ Processos de treino irracional (aumento da carga, competições, …)
„ ….
Factores intrínsecos
Os factores intrínsecos são os que se relacionam especialmente com o atleta e o seu estado de forma, entre eles destacam-se:
„ Excesso de peso
„ Doenças predisponentes
„ Desnutrição
„ Desidratação
„ Deficiências anatómicas (hiper-pronação, pé plano ou cavo, rótula alta ou baixa, diferença no tamanho dos membros inferiores, …)
„ Desvios musculares
„ Instabilidade articular
„ Idade
Estes factores podem controlar-se a partir do processo de treino individualizado com cargas de treino específico.
É de destacar que as lesões não se limitam só aos factores descritos, mas há outros que também influenciam de maneira decisiva. São eles:
1 - métodos de treino incorrectos,
2 - anomalias estruturais que forçam certas partes do corpo mais do que outras e
3 - fraqueza dos músculos, tendões e ligamentos. O desgaste crónico é a causa de muitas destas lesões, que são resultado de movimentos repentinos que afectam tecidos susceptíveis.
FACTORES PREDISPONENTES
As lesões musculares podem ser evitadas através de um bom condicionamento físico, aeróbico, trabalhando a força muscular adequadamente e mantendo um bom alongamento da musculatura esquelética.
No encadeamento - Dores > Contracturas > Estiramentos/Distensões > Ruptura parcial ou total - caracterizando uma lesão muscular, a medicina desportiva aponta vários factores predisponentes:
¨ Baixa resistência física geral
¨ Fadiga muscular por excesso de actividade nos treinos e nos jogos
¨ Falta de aquecimento adequado antes de alguma actividade física
¨ Reacção de defesa numa queda ou agressão física
¨ Mau funcionamento dos músculos agonistas com os antagonistas
¨ Contracção brutal ou excessivamente rápida da musculatura
¨ Inactividade prolongada
¨ Retorno abrupto após longo período de paralisação dos exercícios
¨ Inabilidade ou incoordenação muscular
¨ Drogas, fumo ou bebidas alcoólicas em excesso
¨ Hiper alongamento muscular
¨ Más condições do terreno
¨ Idade
¨ Desnutrição e desidratação ou excesso de peso
¨ Temperatura ambiente desfavorável
¨ E outros factores (calçado desportivo e equipamento de treino)
De referir que os factores predisponentes, porém, não constituem a causa das lesões.
COMO Prevenir as lesões DESPORTIVAS
A prevenção de lesões implica todo um conjunto de medidas e estratégias que inclua não só o desportista mas todo o grupo multidisciplinar, mesmo os responsáveis pela gestão do desporto. As estratégias de prevenção de lesões passam por usar equipamento de protecção (caneleiras), uma boa nutrição, instalações e pisos adequados, … e um planeamento rigoroso e criterioso de treino.
As lesões desportivas podem ser atenuadas ou prevenidas, se para tanto forem respeitadas as regras da prudência, que limitem a competição violenta, originando lesões graves, ou pela utilização de material adequado ou uma preparação física adequada à modalidade praticada.
Sabemos que seis em cada dez pessoas que começam um programa de exercícios abandonam-no nas primeiras 6 semanas devido a uma lesão, que pode evitar-se programando o treino. Um planeamento de treino ou preparação deve basear-se nas seguintes medidas:
AQUECIMENTO
Elevar a temperatura dos músculos (aquecimento) antes de fazer exercício ou praticar um desporto pode ajudar a prevenir as lesões. Os músculos quentes são mais flexíveis e estão menos expostos às roturas que os músculos frios, cuja contracção é “frouxa”. Exercitar-se com passo calmo durante 3 a 10 minutos aquece os músculos o suficiente para os tornar mais flexíveis e resistentes às lesões. Este método activo de aquecimento prepara os músculos para exercícios enérgicos com maior eficácia que os métodos passivos como a água quente, as almofadas de calor, os ultra-sons ou a lâmpada de raios infravermelhos. Os métodos passivos não aumentam a circulação de sangue de modo significativo.
O fluxo de sangue deve aumentar substancialmente para proteger os músculos das lesões durante o exercício.
ALONGAMENTOS
Uma pessoa deve fazer estiramentos apenas depois do aquecimento, quando os músculos estão quentes e é menos provável que se lesionem. O estiramento alonga os músculos e os tendões; os músculos mais compridos podem gerar mais força à volta das articulações, ajudando a saltar mais alto, levantar pesos mais resistentes, correr mais rapidamente e lançar objectos mais longe. Os exercícios de alongamento não parecem prevenir as lesões, mas alongam os músculos de tal forma que se podem contrair mais eficazmente e funcionar melhor.
ARREFECIMENTO
Abrandar o passo gradualmente (arrefecimento) no fim do exercício ajuda a prevenir as tonturas. Quando os músculos da perna se relaxam, quando o exercício é bruscamente interrompido, o sangue acumula-se (estagna) nas veias reduzindo momentaneamente a irrigação cerebral provocando tonturas. Para devolver o sangue ao coração, os músculos da perna devem contrair-se.
O arrefecimento também ajuda a eliminar o ácido láctico, um produto residual que se forma nos músculos depois do exercício e provoca fadiga.
Arrefecimento significa uma redução gradual da velocidade antes de interromper o exercício e evitar a tontura ao manter a circulação sanguínea.
Numa próxima oportunidade abordaremos de forma mais detalhada e exaustiva esta temática do aquecimento, arrefecimento e alongamento desportivo.
Para terminar diria que, na avaliação das lesões desportivas é indispensável a identificação da causa, não só como forma de prevenir, como para obter uma melhoria qualitativa do rendimento desportivo, pois quanto melhor se compreender a causa, melhor se poderão contrariar ou anular os efeitos.
Método PRICE - O melhor tratamento inicial de lesões
Os primeiros socorros para acidentes no desporto baseiam-se na sigla, aceite internacionalmente nos meios desportivos, “PRICE” que em inglês significa:
P (protect the área) - interromper as actividades com o membro afectado - movimento protegido,
R (rest) - repouso selectivo - relaxar a parte afectada,
I (ice) - aplicação de gelo local durante 10 a 15 min de 2 em 2 horas,
C (compression) - compressão selectiva,
E (elevation) - levantar o membro com a lesão, acima da altura do coração, para interromper o fluxo sanguíneo e reduzir o edema/inchaço.
É considerado a melhor forma de tratar lesões traumáticas no desporto, como sejam entorses, luxações, estiramentos e rupturas musculares. A combinação de todos estes factores nas primeiras 48h/72h, ajudam a controlar a inflamação e formação de hematoma após a lesão acontecer e quando mais cedo se iniciar este tratamento, melhor a sua eficácia e prognostico.
Outros autores há, que defendem o método RICE - RICE THERAPY que consiste resumidamente em:
Repouso: É importante por duas razões, primeiro e ainda em campo, no momento seguinte após a lesão, por forma a efectuar-se uma correcta avaliação do musculo, tendão ou ligamento lesionado e segundo nos dias seguintes é útil "fazer descansar" o segmento corporal afectado, utilizando por exemplo canadianas.
Ice (Gelo): Pode-se usar sacos de gelo ou gel, tendo sempre atenção às queimaduras térmicas. Recomenda-se 2h/2h ou 4h/4h uma aplicação de gelo durante 15/20 minutos sempre protegido por uma toalha. A principal acção é diminuição da inflamação e sangramento interno e consequentemente promover o alívio da dor.
Compressão: Preferencialmente utilizam-se ligaduras elásticas ou pés/coxas elásticas, de forma a limitar a formação de hematoma e imobilizar a área afectada. Pode colocar-se o gelo debaixo da ligadura. É mandatório ter atenção a ligaduras muito apertadas pois podem impedir a circulação normal.
Elevação: Permite diminuir o afluxo sanguíneo à extremidade lesionada, diminuído assim o edema e aumentado a drenagem de fluidos inflamatórios. É mais eficaz se a elevação for a nível do coração. Por exemplo se o atleta estiver sentado pode colocar um banco com uma almofada e na cama com a colocação de uma almofada no pé.
Na grande maioria das situações depois de 2/3 dias de tratamento RICE o atleta já sente melhorias significativas, devendo manter treino condicionado antes de um regresso completo aos treinos e jogos.
Simultaneamente devem-se evitar outro conjunto de procedimentos que podem contribuir para agravar a lesão inicial.
O QUE NÃO FAZER: HARM
Heat - Calor na região lesada sob qualquer forma
Alcóol - Ingestão de alcóol
Run - Actividade excessiva da região lesionada
Massage - Massagem

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

CRIOTERAPIA - A utilização do frio em Medicina Desportiva

A utilização do frio em tecidos orgânicos com objectivos terapêuticos denomina-se CRIOTERAPIA. Em medicina desportiva, a crioterapia (gelo) é um importante instrumento de trabalho pela sua capacidade de induzir efeitos analgésicos, anti-inflamatórios e prevenir/diminuir o edema.

Zonas de aplicação

A utilização do frio sobre regiões pouco profundas, como pulso, mão, pé, dedos deve ter a duração de 5 a 10 minutos. - Quando a aplicação é sobre áreas mais densas como o quadrícipes ou isquiotibiais, a duração pode ir até aos 15/20 min.

Efeitos fisiológicos na área de aplicação:

² Vasoconstrição que limita a passagem da corrente sanguínea

² Diminuição da dor

² Diminuição do espasmo muscular

² Diminuição da excitabilidade muscular

² Diminuição do fluxo linfático

² Diminuição do metabolismo

² Diminuição da velocidade de condução nervosa

² Diminuição da formação /acumulação de edema

A crioterapia alcança os objectivos da fase aguda, criando vasoconstrição para ajudar a controlar a hemorragia, diminuir o edema primário e para interromper o ciclo dor-espasmo.

Fisiologicamente: A dor diminui pelas alterações provocadas ao nível dos impulsos nervosos; Ao diminuir o espasmo e a dor estamos a criar condições para o início precoce do movimento activo (melhorias na amplitude de movimento); O benefício mais importante do movimento activo durante a fase aguda é a redução do edema pelo facto de existir contracção muscular (através da facilitação linfática e venosa associada). Portanto, a CRIOTERAPIA ajuda na recuperação precoce de lesões.

A aplicação de gelo provoca, primariamente, uma diminuição da temperatura dos tecidos superficiais e profundos, redução do metabolismo local e secundariamente inibe a hemorragia e a inflamação, através de uma diminuição da produção de linfa e da velocidade de condução nervosa, o que contribui para uma analgesia.

Indicações

Está indicada em casos de: traumatismos mecânicos (entorses, rupturas musculares, luxações), inflamações, contusões e espasmos musculares (diminui a espasticidade, contracturas e hipertensões musculares), no período pós operatório, assim como em lesões crónicas ou periarticulares (tendinites, bursites, tenosinuvites), controle da hemorragia e edema (inchaço).

EM QUE CASOS NÃO SE PODE APLICAR GELO?

Nos casos em que haja fractura exposta, infecções ou perda de sensibilidade no local e nas cãibras.

Métodos de aplicação

Quanto aos métodos de aplicação, o mais comum é o "saco de gelo" (de fácil execução e baixo custo) devido aos efeitos vasoconstritores e anestésico, para evitar queimaduras deve-se colocar uma toalha. Por vezes recorre-se a "compressas frias/sacos de gel" é um método que promove um arrefecimento superficial e tem uma eficácia de cerca de 5 minutos. A "massagem com gelo", é um método bastante conhecido mas os seus efeitos terapêuticos não são consensuais.

Existe também o "banho de imersão", que consiste num método que provoca uma diminuição da temperatura muito rápida devido ao arrefecimento das extremidades – método de eleição nas queimaduras. A temperatura da água e o tempo de imersão dos segmentos corporais são variáveis. Em alternativa surge o "banho de contraste", que consiste numa alternância entre o calor e o frio, com o objectivo de produzir vasodilatações e vasoconstrições repetidas. Deve-se iniciar com água quente e terminar com água fria por razões metabólicas.

Por ultimo surgem os "aerossóis/spray milagroso", com uma utilização terapêutica sintomática em traumatismos agudos (em terreno de jogo). O tempo de aplicação é breve e a temperatura baixa rapidamente com efeitos fisiológicos transitórios.

È importante ter em conta que a aplicação directa e prolongada do frio pode provocar queimaduras de diferentes graus de gravidade pelo que se exige a tomada das precauções necessárias à sua prevenção. A crioterapia por si só não leva à cura de nenhuma patologia mas constitui um instrumento que auxilia no tratamento de várias afecções. É um recurso de intervenção nos sintomas que quando aplicado adequadamente reduz a sintomatologia dolorosa, diminui o espasmo muscular, as reacções inflamatórias e o edema. A escolha do método de aplicação da crioterapia depende de vários factores: área afectada (localização, extensão), tipo de traumatismo, tipo de resposta orgânica que se pretende obter, objectivos terapêutico.

Lesões Desportivas - Os primeiros cuidados após a lesão

O que fazer em caso de lesões desportivas?

Os primeiros cuidados são fundamentais para minimizar as complicações e permitir uma recuperação mais natural e funcional.

Em traumatologia desportiva as lesões revestem-se, basicamente, de dois aspectos que apesar de parecidos são distintos e diferentes.

De um lado, os pequenos traumatismos ligados à repetição/execução contínua de determinados movimentos/gestos, microtraumas ou microruturas silenciosas, que se vão agravando com o tempo, são "lesões por esforço repetitivo" do inglês "Repetitive Strain Injury". Esta expressão é utilizada para lesões dos músculos, tendões, ligamentos e outros tecidos moles como resultado não só de uso excessivo mas também de um mau uso.

Pensemos nos jovens em crescimento; em consolidação de ossos, músculos, cartilagens, …, em pisos duros, terrenos “pelados”, no número de impactos do pé com o solo durante uma época de treinos e jogos… Na maioria dos desportos e actividades, lesões de uso repetitivo são as mais comuns e as mais desafiantes para serem diagnosticadas a tratadas.

Do outro, os acidentes traumáticos, resultantes da velocidade, dos movimentos forçados e dos choques.

Após qualquer lesão, quer seja a partir de microtraumatismos ou macrotraumatismos, inicia-se o processo de reparação. Este processo é geneticamente determinado tal como são os mecanismos de auto-regulação. Pode-se dizer que temos no nosso código genético, processos de AUTO-REPARAÇÃO, que são accionados após a ocorrência de qualquer lesão e que se podem descrever em diferentes estadios:

1ª - FASE AGUDA OU FASE INFLAMATÓRIA (até às primeiras 48/72 h)

Sinais Cardinais característicos da Fase Inflamatória:

CALOR – energia metabólica irradiada

RUBOR – vasodilatação e aumento da vascularização

EDEMA/HEMATOMA – exsudado inflamatório e/ou hemorragia

DOR – estimulação das terminações nervosas aferentes, por processos quer de natureza física, quer de natureza química, que ocorrem nas primeiras horas pós-lesão.


O conjunto destes sinais/sintomas levam a uma limitação/incapacidade funcionais que será tanto mais acentuada quanto maior for a gravidade e a extensão da(s) lesão(ões) inicial(is).

Nesta 1.ª fase os cuidados visam:

® Controlar a resposta inflamatória,

® Melhorar a nutrição tecidular e a drenagem das substâncias indesejadas

® Reduzir a dor e o edema/hematoma locais

O conjunto de procedimentos terapêuticos a seguir, nas primeiras 48/72 horas, poderão ser descritos de uma forma sucinta pelas iniciais inglesas RICE, após uma avaliação prévia que conduza a um diagnóstico.

Simultaneamente devem-se evitar outro conjunto de procedimentos que podem contribuir para agravar a lesão inicial (ex. aplicação de calor).

A aplicação de ligaduras funcionais pode ser um excelente método uma vez despistadas lesões osteoarticulares.

2ª - FASE DE REPARAÇÃO TECIDULAR do 3º/4º dia até ao 10º/14º dia.

Nesta 2.ª fase os cuidados visam:

® Promover a reparação tecidular eficiente e sem recidivas

® Promover o comportamento normal da estrutura lesada

Os processos de reparação dos tecidos moles devem ser feitos permitindo alguns movimentos. É a fase da função protegida. A imobilização prolongada e total dos tecidos moles afectados promovem uma cicatrização desordenada não funcional para além de atrofias musculares. O movimento controlado induz um tecido em reparação mais funcional.

3ª - FASE DE REMODELAÇÃO que vai do 10º/14º dias até 21º/60º dias, consoante a gravidade e a extensão da lesão inicial.

Pretende-se nesta fase consolidar o processo de reparação e prevenir a cicatrização excessiva e desordenada. É a fase onde se deve fazer a reintegração progressiva e gradual ao treino e à actividade desportiva, sendo essencial a sintonia entre o Enfermeiro ou Fisioterapeuta e o treinador - Departamento Clínico e Equipa Técnica.

Assistência em Campo - Importância dos 1.ºs minutos

Ao longo dos anos muito se têm escrito sobre lesões desportivas, quer em publicações especializadas assim como em meios de imprensa e qual o seu melhor tratamento. Existe alguma informação disponível sobre as 48h e 72h após a lesão, existindo um ponto em comum: o método RICE (que abordaremos oportunamente). Mas, muitos responsáveis desportivos desconhecem que os primeiros minutos após a lesão acontecer são fundamentais, para uma melhor avaliação, prognóstico e posterior reabilitação do atleta.

Imaginemos que um jogador faz uma entorse do tornozelo, num campo de futebol 11, na zona mais distante do banco de suplentes, e por ventura o responsável clínico da equipa, está distraído, sem estar imediatamente disponível para actuar - o tempo que perde para chegar perto do jogador - pode ser suficiente para aumentar a extensão do hematoma entretanto formado influenciando negativamente toda a avaliação e posterior tratamento da lesão.
Os profissionais de campo têm consciência quanto necessário é realizar diagnósticos rápidos mas seguros. A atitude mais correcta para salvaguardar o próprio atleta é a evacuação do terreno de jogo para a periferia do campo, com o jogador transportado em maca.
É fundamental perguntar ao jogador o que e como aconteceu, onde sente dor, como se sente actualmente e se têm história de lesões naquele segmento corporal.

A avaliação e o diagnóstico quando realizados fora do campo permitem uma decisão mais precisa e não ficam sujeitos à imprecisão de um exame clínico, que por norma se faz perante a “pressão” do árbitro, da equipa adversária ou do público em geral.

A assistência fora do campo permite ainda a exposição da área afectada, observação de sinais de gravidade, como hemorragia interna (hematoma) ou ruptura de fibras e ainda evitar a utilização do milagroso spray, tantas vezes de forma indiscriminada para aliviar a dor e restituir o atleta à competição, camuflando uma lesão grave.

A permanência do jogador em campo é um acto de grande responsabilidade. Vejamos um exemplo prático: uma entorse benigna do joelho, sendo inofensiva, mas analisada num contexto clínico de campo, pode originar numa rotura ligamentar grave, quando o atleta intempestivamente reinicia o esforço após uma observação precipitada e incompleta. Por outro lado vejamos a dificuldade em fazer um diagnóstico pela observação clínica e queixas do atleta sem meios auxiliares de diagnóstico no campo.

Face à gravidade da lesão poderá ser necessário, o abandono do jogo, remoção para um local mais calmo (balneário) e se necessário o seu encaminhamento para uma urgência hospitalar em casos de emergência, como grandes traumatismos cranianos, fracturas ou luxações graves, hemorragias, entres outros problemas possíveis.

No desporto, uma simulação de lesão adquire outro significado quando utilizada para adquirir uma vantagem numérica, para beneficiar de uma penalização ou consolidar um resultado, sendo por isso considerada uma questão de ética desportiva.
A avaliação em campo deverá apenas ser realizada para os guarda-redes, por razões de substituição.

Enfermagem Desportiva - O papel do enfermeiro

A história da ligação dos enfermeiros ao desporto, começou decerto pelo futebol, e não terá mais de 50 anos. Foi feita por um número reduzido de profissionais, e apenas em clubes de maior dimensão.
Nas selecções Nacionais de futebol, a história é feita com enfermeiros. A Federação Portuguesa de Futebol fala nos seus estatutos em Enfermeiros/Massagistas obrigando até à apresentação da carteira profissional, aquando do pedido dos clubes de cartões para efectuarem os jogos.
Neste contexto, são até conhecidas referências a enfermeiros com grande notoriedade mediática e com elevado reconhecimento pelo seu trabalho e dedicação.
Foram os casos da grande figura do Sporting, o enfermeiro Manuel Marques, Asterónimo Araújo, figura do Benfica, enfermeiro José Mário, ao serviço do Futebol Clube do Porto e da Selecção Portuguesa de Futebol, entre outros.
Não esqueçamos o enfermeiro Rodolfo Moura, apelidado no Futebol Clube do Porto como “o monstro da medicina”, foi em 2002 envolto em grande destaque aquando da sua transferência para o Sporting Clube de Portugal, e mais tarde para o Benfica, sendo reconhecido por muitos jogadores que jogam por essa Europa fora.
Por mais rica, digna e exaltante que seja a história da enfermagem no desporto, a mudança caracterizadora dos nossos dias insinua-se, instala-se e determina novas realidades. É fácil encontrar o cimento unificador, quando falamos de enfermeiros no desporto. Todos, independentemente do trajecto e da formação, têm no centro da sua intervenção, por um lado a prevenção, a formação e manutenção da saúde e por outro o tratamento e reabilitação do atleta. O atleta é o centro da sua acção.
A enfermagem no desporto permite aos enfermeiros, de um modo claro, desenvolver uma actividade competente e relevante, pouco organizada mas com presente e futuro, enfermeiros diferenciados e capazes. O tempo que se vive na enfermagem no desporto, não é fácil, exige esforço diário redobrado, exige rigor de procedimentos, exige determinação e afirmação, pois só assim seremos dignos enfermeiros do desporto e no desporto.

PRÁTICA DESPORTIVA E QUALIDADE DE VIDA
Sabemos que a actividade física é um dos meios de protecção da saúde, necessitando porém de orientação por parte da equipa sanitária, onde os enfermeiros desempenham, frequentemente, um papel de educadores e conselheiros, devendo, por isso, orientar os praticantes de forma individualizada, face aos benefícios e riscos para a saúde que esta comporta, tendo em atenção as alterações fisiológicas que são induzidas por ele.
A Prática desportiva é cada vez mais importante na nossa sociedade, não só pelos benefícios físicos como também pela forma como os interesses económicos rodeiam o fenómeno do desporto.
As exigências impostas pela necessidade de se obterem resultados, fazem com que se utilizem cargas de treino crescentes muitas delas nos limites da tolerância fisiológica dos atletas/praticantes. Começam então a surgir patologias próprias da prática desportiva intensa.
É aqui que os enfermeiros, integrados nas equipas clínicas de apoio aos atletas, nos seus clubes, actuam na prevenção de lesões, sensibilizando técnicos e dirigentes desportivos e na sua resolução no mais curto espaço de tempo quando as mesmas são inevitáveis.
A cura efectiva, rápida e segura, que é exigida pelos atletas, treinadores, dirigentes e público, ultrapassa a atitude estática e impõe uma clínica de grupo multidisciplinar, com o enfermeiro sempre presente, pela especificidade da acção e experiências adquiridas, não se compadecendo com empirismos artesanais de outros técnicos não qualificados.
Desde as relações com os desportistas até aos elementos da equipa de saúde, dirigentes desportivos, equipa técnica,..., deverá estar sempre presente nos propósitos dos enfermeiros do desporto, uma relação humana adequada, assertiva e com sentido de ética profissional, granjeadora de prestigiante visibilidade social para a enfermagem em geral.

EVOLUÇÃO DA PROFISSÃO DE ENFERMAGEM
Ao entender enfermagem como profissão social, que concepções de enfermagem possuem os enfermeiros que trabalham no desporto e consequentemente, como perspectivam a profissão?
Sendo a evolução do conteúdo da enfermagem coincidente, também no meio desportivo, nos valores intrínsecos - Pessoa, Saúde, Ambiente, Cuidados - como se podem articular os mesmos, com fenómenos tão próprios como os do desporto?
Disponibilizando conhecimentos que coloca ao serviço do atleta. Como?
Acompanhando-o nas experiências de saúde, estabelecendo parcerias Enfermeiro/Atleta de que resultam cuidados personalizados, globais e integrais, da inteira responsabilidade do enfermeiro.
A proximidade permanente do enfermeiro junto dos atletas, dá-lhes uma importância impar na equipa, que este não pode desaproveitar, fortalecendo assim a dimensão relacional Enfermeiro/Atleta, partilhando as suas decisões autonomamente com os atletas, da concepção à execução dos cuidados que pretendem responder às necessidades por estes referidas, de forma personalizada e com atenção ao carácter único de cada situação e indivíduo, tendo sempre em mente o princípio de que é ele (atleta) que tem em si os recursos para a solução dos seus problemas. Entenda-se recuperação mais rápida e eficaz conforme a vontade e disponibilidade, digo, força mental do atleta.

A PRÁTICA DE ENFERMAGEM NO DESPORTO
Se pensarmos nas actividades de vida diária, também no desporto, há factores que influenciam essas actividades.

 Factores físicos (superação contínua dos limites de resposta física ao esforço)
 Factores Psicológicos (os atletas e alto nível são sujeitos a pressões emocionais que por vezes interferem com a sua confiança e auto-estima)
 Factores Sócio-culturais (estágios prolongados longe da família)
 Factores Espirituais e religiosos (interferem por exemplo com a alimentação - muçulmanos não comem carne de porco; altura do Ramadão fazem jejum durante o dia)
 Factores Ambientais (temperatura ambiente)
 Factores Político-económicos (instalações desportivas e equipamento adequado)
Pensando em atletas, pensamos normalmente em jovens, habituais referência de saúde; e como sofrerão eles com alterações de actividades de vida, decorrentes da prática desportiva e de tudo o que gira a sua volta?
Se aceitarmos a enfermagem como uma ciência humana prática, e recebendo contributos de outras ciências, o desenvolvimento do bem-estar do homem nas suas vertentes físicas, mentais e sociais, podemos concluir que a prática desportiva é uma actividade que deve merecer toda a atenção por parte da enfermagem.
Se o acesso à prática desportiva é reconhecido e recomendado por todos ao mais alto nível, então os enfermeiros devem envolver-se com o desporto, como meio de melhorarem a saúde dos indivíduos e da comunidade. A Enfermagem desportiva surge como uma ramificação dos cuidados de saúde primários.
Hoje existem: Desporto de Massas; Desporto de Manutenção; Desporto Amador; Desporto de alta competição e alto rendimento; Desporto para saudáveis; Desporto para deficientes.
E como poderão os enfermeiros intervir no apoio ao desporto?
Os enfermeiros, através dos cuidados podem e devem ensinar e dimensionar a actividade desportiva à condição psico-biológica do praticante de quem assiste:
 Indicando a adequada actividade física para a melhoria e manutenção da saúde em todas as idades;
 Controlando os limites físicos do esforço dos atletas no treino e na competição, evitando a superação dos limites de segurança biológica individual;
 Estudando os comportamentos e as reacções do organismo e dos indivíduos (atletas) aos variados estímulos do mundo do desporto;
 Dando cumprimento às indicações terapêuticas, com espírito de complementaridade interdependente;
 Fazendo a reabilitação dos lesionados nas várias práticas desportivas;
 Gestão de stocks e selecção de materiais (aparelhos, ligaduras, tapes, material de pensos, mobiliário, material de proprioceptividade,...);
 Dando noções de educação sanitária, com fins profilácticos e incidindo na adopção de hábitos de vida saudáveis;
 Participando na elaboração de medidas relativas à higiene e segurança dos recintos de prática desportiva;
 Desenvolvendo cursos para outros técnicos ligados ao meio.

Tal como noutras áreas de actividade, a presença do enfermeiro no meio desportivo, para além das técnicas específicas, envolve contextos relacionais íntimos, com vista a obter determinados resultados, essencialmente em interacção com o atleta.
Todas as intervenções devem ser encaradas como importantes não menosprezando as queixas “sentidas” pelo atleta.
Aqui incluem-se técnicas repetidas sem pensar, as indicações ritualmente dirigidas (ex. “põe gelo”), isentas de qualquer manifestação inequívoca no plano interpessoal da atenção dispensada ao problema do atleta.
No dia-a-dia da prática desportiva temos a noção da intensidade e do valor das emoções vividas, entre os atletas, afectados na auto-estima, procurando o apoio dos enfermeiros, que são peritos em escuta activa, de tão grande valor terapêutico nessas ocasiões.
Quantas vezes, a lesão física não é senão um pretexto para o atleta sentir interacção com o enfermeiro, sempre presente no processo curativo.
Nestes processos a acção dos enfermeiros é muito importante, no ensino para a adopção de estilos de vida adequados à prática desportiva, e na recuperação funcional após processos traumáticos incapacitantes com todo o peso que têm para os atletas, impedindo-os de fazerem o que gostam.
Os enfermeiros que trabalham no desporto terão sempre que ter presente a capacidade de escuta, como via de acesso à compreensão do atleta de quem cuidam.
Esta deve constituir um processo activo e voluntário através do qual o enfermeiro deve: manifestar ao atleta o que é importante para o enfermeiro; permitir-lhe identificar as suas emoções e ajudá-lo a identificar as suas necessidades.

Nota Introdutória

Consciente da insuficiência de qualificações técnicas, confesso que me senti tentado e foi com muita satisfação e atrevimento que me pronuncio sobre tão importante como oportuno tema.
Considero importante, por se constituir como reportório vasto e diversificado de úteis ensinamentos e conselhos que, embora de natureza técnica e científica, não deixam de ser acessíveis à generalidade dos leitores.
Oportuno, por permitir satisfazer a cada vez maior necessidade de saber e conhecer, numa área onde se verifica uma enorme carência de informação.
Assim, proponho-me ao longo deste blog, editar alguns artigos de opinião, ainda que de carácter teórico, científico e prático sobre enfermagem e desporto - lesões desportivas, como prevenir e tratar,....